sábado, 16 de outubro de 2010

República Fundamentalista Cristã

VLADIMIR SAFATLE

FUNDADA EM 31 de outubro de 2010 após a expulsão dos infiéis do poder, a República Fundamentalista Cristã do Brasil apareceu em substituição à República Federativa do Brasil. Dela, ela herdou quase tudo, acrescentando uma importante novidade institucional: um poder moderador, pairando acima dos outros Três Poderes e composto pela ala conservadora do catolicismo em aliança com certos setores protestantes. Os mesmos setores que, nos EUA, deram suporte canino a George W. Bush. A função deste poder moderador consiste em vigiar o debate político e social, impedindo que pautas de modernização social já efetivadas em todos os países desenvolvidos cheguem ao Brasil.

Na verdade, a fundação desta nova República começou após uma eleição impulsionada pelo problema do aborto. Procurando uma tábua de salvação para uma candidatura que nunca decolara e que passou ao segundo turno exclusivamente por obra e graça de Marina Silva, José Serra resolveu inovar na política brasileira ao instrumentalizar politicamente os dogmas mais arcaicos deste que é o maior país católico do mundo.

Assim, sua mulher foi despachada pelos quatro cantos para alertar a população contra o fato de Dilma Rousseff apoiar "matar criancinhas" (conforme noticiou um jornal que declarou apoio explícito a seu marido). As portas de seu comitê de campanha foram abertas para os voluntários da TFP, com seus folhetos contra a "ameaça vermelha" capaz de perverter a família brasileira através da legalização da prostituição e do casamento gay (conforme noticiou o blog do jornalista Fernando Rodrigues). A internet foi invadida por mensagens "espontâneas" contra a infiel Dilma e o PNDH-3.

José Serra já havia dado a senha quando afirmou, em um debate, que legalizar o aborto seria uma "carnificina". Que 15% das mulheres brasileiras entre 18 e 39 anos tenham abortado em condições indescritíveis, isto não era "carnificina". Carnificina, para Serra, seria o Brasil importar esta prática tão presente na vida dos "bárbaros selvagens" que são os ingleses, franceses, alemães, norte-americanos, espanhóis, italianos, ou seja, todos para quem o aborto é, pasmem, uma questão de saúde pública e planejamento familiar.

Confrontada com esta guinada, a "classe média esclarecida" não se indignou. As clínicas privadas que fazem abortos ilegais continuariam funcionando. O direito sagrado de salvar a filha de classe média de uma gravidez indesejada continuaria intacto. Para tal classe, o discurso sobre "valores cristãos" era apenas uma radicalização eleitoral.
Quando o poder moderador, confiante em sua nova força, começou a exigir que o criacionismo fosse ensinado nas escolas, que o Estado subvencionasse atividades de proselitismo religioso travestidas de filantropia, já era tarde. Então, alguns lembraram, com tristeza, dos pais fundadores da República Federativa do Brasil, decididos a criar uma república laica onde os dogmas religiosos não seriam balizas da vida social. Uma república onde seria possível dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Uma República que morreu no dia 31 de outubro de 2010.

VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP.
[Folha de S. Paulo, 11 de outubro de 2010]

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Manifesto em Defesa da Educação Pública

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.

Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais. Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política sistemática de sucateamento da rede pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.

Os salários da rede pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores mais qualificados. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.

Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados. No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais.

Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.


Nota: Manifesto supra-partidário que circula na internet, contra Serra. Retirado de HISTEDBR-Unicamp (Grupo de Estudos e Pesquisa "História, Sociedade e Educação" da Faculdade de Educação da Unicamp)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Argumento Classe Média

É interessante ressaltar que, para mim, estes números não são o mais importante. Há muito mais; as transformações pelas quais o país passou desde as eleições de 2002 são muito mais agudas do que estes números econométricos podem demonstrar. Ainda assim, acredito que, para muitos, estes dados sejam um argumento bem influente.

Números das gestões LULA e FHC.
GOVERNO LULA - PT (7,8 ANOS)
GOVERNO PSDB - PSDB/PFL (8 ANOS)
1) Número de policiais federais:
Governo Lula: 13 mil
Governo PSDB/PFL: 5 mil
2) Operações da PF contra a corrupção, sonegação de impostos, crime organizado e lavagem de dinheiro:
Governo Lula: 358
Governo PSDB/PFL: 20
3) Prisões efetuadas pelos motivos acima:
Governo Lula: 3.971
Governo PSDB/PFL: 54
4) Criação de empregos:
Governo Lula: 36 milhões (14,6 milhões com carteira assinada)
Governo PSDB/PFL: 700 mil
5) Média anual de empregos gerados:
Governo Lula: 2,14 milhão
Governo PSDB/PFL: 87,5 mil
6) Taxa de desemprego nas regiões metropolitanas:
Governo Lula: 6,3%
Governo PSDB/PFL: 11,7%
7) Desemprego em SP, maior cidade do país:
Governo Lula: 12,9%
Governo PSDB/PFL: 19,0%
8) Exportações (em dólares):
Governo Lula: 258,3 bilhões
Governo PSDB/PFL: 60,4 bilhões
9) Balança comercial (em dólares):
Governo Lula: 265,3 bilhões (positivos)
Governo PSDB/PFL: - 8,4 bilhões (negativos)
10) Transações correntes (em dólares):
Governo Lula: 110,1 bilhões (positivos)
Governo PSDB/PFL: - 186,2 bilhões (negativos)
11) Risco-país:
Governo Lula: 204
Governo PSDB/PFL: 2.400* No governo Lula, o país atingiu o patamar mais baixo da história.
12) Inflação:
Governo Lula: 3,8% (média)
Governo PSDB/PFL: 12,53%
13) Dívida com o FMI (em dólares):
Governo Lula: dívida paga – Hoje o FMI nos deve 18 bilhões
Governo PSDB/PFL: 14,7 bilhões (todo ano emprestávamos uma média de 10 bilhões que desapareciam inexplicavelmente)
14) Dívida com o Clube de Paris (em dólares):
Governo Lula: dívida paga
Governo PSDB/PFL: 5 bilhões
15) Dívida externa:
Governo Lula: 2,41%
Governo PSDB/PFL:12,45%
16) Empréstimo para habitação (em reais):
Governo Lula: 9,5 bilhões
Governo PSDB/PFL: 1,7 bilhões
17) Crescimento industrial:
Governo Lula: 8,77%
Governo PSDB/PFL: 1,94%
18) Produção de bens duráveis:
Governo Lula: 14,8%
Governo PSDB/PFL: 2,4%
19) Aumento na produção de veículos:
Governo Lula: 5,4%
Governo PSDB/PFL: 1,8%
20) Crédito para a agricultura familiar:
Governo Lula: 11,3%
Governo PSDB/PFL: 2,4%
21) Valor do salário mínimo em dólares:
Governo Lula: Quase 300
Governo PSDB/PFL: 55
22) Poder de compra do salário mínimo em relação à cesta básica:
Governo Lula: 3,7 cestas básicas
Governo PSDB/PFL: 1,3 cesta básica
23) Aumento do custo da cesta básica:
Governo Lula: 15,6%
Governo PSDB/PFL: 81,6%
24) Transferência de renda (em reais):
Governo Lula: 12,1 bilhões
Governo PSDB/PFL: 2,3 bilhões
25) Média por família:
Governo Lula: 87 reais
Governo PSDB/PFL: 25 reais
26) Atendidos pelo programa Brasil Sorridente (atendimento odontológico):
Governo Lula: 35,7%
Governo PSDB/PFL: 17,5%* 15 milhões de brasileiros foram pela primeira vez ao dentista.
27) Mortalidade infantil indígena (por 1000 habitantes):
Governo Lula: 18,6
Governo PSDB/PFL: 55,7
28) Pró-jovem - estudo subsidiado:
Governo Lula: 183 mil (18 a 24 anos)
Governo PSDB/PFL: não havia programa, nem registro.
29) Bolsa Família:
Governo Lula: 24,1 milhões de famílias
Governo PSDB/PFL: o programa era o Bolsa Escola com atendimento restrito a um pequeno número de pessoas.
30) Incremento no acesso a água no semi-árido nordestino:
Governo Lula: 1.762 mil pessoas e 152 mil cisternas
Governo PSDB/PFL: zero, não havia programa.
31) Distribuição de leite no semi-árido (sistema pequeno produtor):
Governo Lula: 8,3 milhões de brasileiros
Governo PSDB/PFL: zero, não havia programa.
32) Áreas ambientais preservadas:
Governo Lula: incremento de 25,6 milhões de hectares
Do ano do Descobrimento do Brasil até 2002: 40 milhões de hectares
33) Apoio à agricultura familiar:
Governo Lula: mais de 40 bilhões
Governo PSDB/PFL: Maior repasse 2,5 bilhões
34) Compra de terras para Reforma Agrária:
Governo Lula: 3,7 bilhões (2003 a 2005)
Governo PSDB/PFL: 1,1 bilhão (1999 a 2002)
35) Investimento do BNDES em micro e pequenas empresas:
Governo Lula: 35,99 bilhões
Governo PSDB/PFL: 8,3 bilhões
36) Investimento anual em saúde básica:
Governo Lula: 2,5 bilhões
Governo PSDB/PFL: 155 milhões
37) Equipes do Programa Saúde da Família:
Governo Lula: 27.401
Governo PSDB/PFL: 16.698
38) Índice BOVESPA:
Governo Lula: 35,2 mil pontos
Governo PSDB/PFL: 11,2 mil pontos
39) Dívida externa:
Governo Lula: (260 BILHÕES EM RESERVAS)
Governo PSDB/PFL: 210 bilhões NEGATIVOS
40) Desemprego no país:
Governo Lula: 8,3%
Governo PSDB/PFL: 12,2%
41) Eletrificação Rural:
Governo Lula: 8 milhões de pessoas
Governo PSDB/PFL: 2,7 mil pessoas
42) Livros gratuitos para o Ensino Médio:
Governo Lula: 17 milhões
Governo PSDB/PFL: zero
43) Geração de Energia Elétrica:
Governo Lula: 1.567 empreendimentos em operação, gerando 95.744.495 kW de potência. Está previsto para os próximos anos uma adição de 26.967.987 kW na capacidade de geração do País, proveniente os 65 empreendimentos atualmente em construção e mais 516 outorgadas.
44) Construção de Universidades Federais:
Governo Lula: 27 universidades + 58 novos campi
Governo PSDB/PFL: 6 universidades federais em 8 anos
E PARA TERMINAR NO Nº 45:
45) Falcatruas e roubalheiras dentro das instituições do governo federal, estatais, e empresas do governo:
Governo Lula: o povo conhece, a imprensa divulga, a polícia federal age e prende, a Controladoria Geral da União (CGU) investiga e denuncia livremente, o Congresso investiga e denuncia, CPIs são instaladas e corruptos são cassados; a justiça julga, o dinheiro roubado aparece e "companheiros" são expulsos, presos, demitidos, cassados ou punidos.

retirado de: circula nos e-mais. Não averiguei a consistência dos dados, mas é fácil checar na internet. Em geral, material de campanha do PT costuma oferecer dados bem semelhantes com as respectivas fontes. A campanha do PSDB não tem argumentos e, portanto, não oferece dados concretos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dois pesos… O artigo que culminou na demissão de Maria Rita Kehl do Estadão

Por Maria Rita Kehl, para o O Estado de S.Paulo

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

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NR : A direita raivosa não aceita que os mais pobres possam ter um pouquinho mais de dignidade. É muita miséria de pensamento, muita mesquinharia acumulada durante estes anos todos no espírito. Tive a sorte de assistir a uma palestra do Paul Singer e depois, conversando no cafézinho, ele falou com os olhos brilhando da imensa inclusão social que o Bolsa Família proporcionou além de mudar radicalmente a economia de pequenas cidades do interior do Brasil. Daí vem um vampiro… e Vade retro !

retirado de http://betobertagna.com/2010/10/05/dois-pesos…-o-artigo-que-culminou-na-demissao-de-maria-rita-kehl-do-estadao/